O lançamento do primeiro álbum solo gravado no Brasil por Airto Moreira – Aluê, posto no mercado neste mês de dezembro em edição do Selo Sesc – é fato por si só relevante diante da dimensão planetária alcançada pelo som desse percussionista, bateria e compositor de atuais 76 anos.
A partir da década de 1970, dois percussionistas brasileiros sobressaíram na cena musical dos Estados Unidos. Se o carioca Laudir de Oliveira (1940 – 2017) pôs molho afro-brasileiro no rock, tendo feito parte da banda norte-americana Chicago de 1974 a 1981, o catarinense Airto Moreira caiu no suingue do jazz e abriu a porta desse mercado para músicos do Brasil.
O toque da percussão de Airto foi ouvido em discos próprios e de nomes como Miles Davis (1926 – 1991), trompetista norte-americano de jazz que requisitou Airto para a gravação, em 1969, do álbum Bitches brew (1970), revolucionário disco com que Miles estabeleceu os cânones da vertente fusion do jazz. Desde então, Airton tem sido reverenciado no universo norte-americano do jazz, tendo acumulado prêmios e discos nos EUA.
Com capa que expõe pintura de Aldo Sampieri, Brown rooster, o álbum Aluê reitera a maestria e o requinte da percussão de Airto em repertório quase inteiramente autoral que mistura composições inéditas – Guarany, Rosa negra e Não sei pra onde, mas vai – com releituras de músicas marcantes na trajetória de Airto, casos de Misturada (1967), de Sea horse (1989), de I’m fine, how are you? (1977) e da música-título Aluê, parceria do artista com Flora Purim gravada no primeiro disco solo de Airto, Natural feelings, lançado em 1970 nos Estados Unidos.
Cabe ressaltar que todas as oito músicas do álbum foram registradas ao vivo, em um único take, ao longo da gravação de Aluê, feita de 3 a 6 de novembro de 2016 no Estúdio Gargolândia, em Lambari (SP). Primeiro disco de Airto deste Live in Berkeley (2012), registro de show captado em 1990 e lançado há cinco anos, Aluê foi gravado por Airto com banda formada pela filha do percussonista, Diana Purim (voz e arranjos vocais), com os músicos Carlos Ezequiel (bateria), Fábio Leandro (piano e teclados), José Neto (violão, guitarra e arranjos) Sizão Machado (contrabaixo) e Vitor Alcântara (flauta e saxofones).
Integrante do Quarteto Novo, influente grupo da segunda metade da década de 1960, Airto Moreira mostra em Aluê a força de uma música que continua com frescor, cinco décadas após a estreia deste músico brasileiro cujo som igualmente brasileiro reverberou cadências refinadas em todo o universo, sobretudo no mundo do jazz latino.
(Créditos das imagens: Airto Moreira em foto de divulgação de Matheus José Maria. Capa do álbum Aluê)