Cheguei ao Dia da Pizza embalado na leitura do livro “Pizza: Uma Storia Napoletana”, do italiano Antonio Mattozzi.
É uma obra fantástica. Despreza as fábulas criadas para enaltecer figurões –como a exagerada importância dada à rainha Margherita– e investiga a fundo as raízes populares da pizza.
Mattozzi descreve a Nápoles dos séculos 18 e 19, único cenário possível para o surgimento da pizza como a conhecemos, das pizzarias e, não menos importante, dos pizzaiolos.
Era um lugar caótico como, em grande medida, continua a ser.
Nápoles fica espremida entre o mar e as montanhas, não tem para onde se expandir. No século 16, recebeu vários fluxos migratórios, de camponeses fugindo da fome nas áreas rurais –na zona urbana, com mais visibilidade, o governo subsidiava fortemente o pão.
Como resultado, tornou-se a segunda cidade mais populosa da Europa, perdendo apenas para Paris –mas numa área muito menor.
A densidade populacional de Nápoles era absurda. Isso causou ondas de especulação imobiliária e resultou em condições insalubres de moradia.
Um “apartamento” típico napolitano era um quartinho sem janela, sem banheiro e, o que importa para esta história, sem cozinha.
As pessoas precisavam se alimentar fora de casa. Foi nesse contexto que a pizza surgiu como uma comida muito barata, vendida nas ruas para gente sem eira nem beira.
Pizza era a cara da pobreza. Farinha, água e umas coisinhas por cima para dar sabor. Assim se entende por que até hoje a pizza napolitana é tão comedida na quantidade das coberturas.
O que não se entende é como a pizza, que continua sendo barata para quem faz, virou artigo quase de luxo em São Paulo. Um programa na casa dos três dígitos.
O cartunista André Dahmer, gaúcho radicado no Rio, até tirou onda da pizza paulistana de cem reais. Ou bem mais do que isso.
Pegue a pizza de camarão rosa da Camelo, de R$ 263 –em tese, a mais cara da cidade.
Mas deixemos de lado os ingredientes supercaros.
Pegue a pizza de muçarela da Veridiana, por R$ 102. A de calabresa apimentada da Bráz, por R$ 117.
Pegue ainda a cobertura de atum em conserva da Speranza, por R$ 122. Ou a de quatro queijos da Castelões, por R$ 136 no iFood. Ambas, pizzarias fundadas por imigrantes italianos.
Por que tão caras?
A resposta é muito simples: porque há quem pague.
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