A cortina cai, e quem estava escondida era Katy Perry, cantora mundialmente famosa, dona de um filão de hits, e que lidera uma das noites do Rock in Rio, na mesma data em que lança seu novo disco. Escolheu o Brasil, afinal, para marcar seu retorno à música. Mas ali, no gramado do reality show Estrela da Casa, nos estúdios da Globo, Katy parecia uma grande desconhecida.
Demorou uns bons segundos até que os participantes do programa entendessem de quem se tratava. Uns murmuram “Katy”, enquanto a americana dá tchauzinhos tímidos. No fundo, toca “Firework”, seu sucesso máximo, como se a emissora temesse de antemão que os participantes não a reconhecessem.
Seja porque não se acostumaram com a presença das estrelas ou porque a maioria ali não tem lá muita afinidade com Katy, o momento foi bastante constrangedor. A cantora caminhou lentamente até os participantes, com cara de assustada, soltando um “hi” aqui, outro acolá, como se os tentasse fazer entender de vez que era ela mesmo, em pessoa, aquela que canta em inglês.
Depois a situação piorou. Katy foi obrigada a conversar com os jogadores, numa daquelas trocas truncadas que ocorrem quando estrangeiros vão à Globo —não se sabe se é para falar português ou inglês com o convidado.
A brasiliense Nicole Louise tentou explicar à cantora como funcionam as câmeras da casa, e, para isso, fez uma encenação com a própria cabeça, imitando o movimento da lente, com os olhos arregalados e a boca retorcida, imitando um barulho eletrônico com a voz. Katy responde sem falar nada, só com uma cara de quem está muito constrangida. A cena já viralizou, mas não por ser engraçada.
Depois, Katy foi incentivada a arriscar uns passinhos de funk. “Vocês podem me ensinar”, ela disse, sem parecer muito à vontade. Tentou um quadradinho mal feito e logo desistiu.
Katy Perry sempre foi bem humorada, lançou clipes escrachados e riu de si mesma. Nunca tentou ser uma diva pop elegante, sua pegada era outra, a da diversão, das cores, dos doces. Sua relação com o Brasil sempre foi boa, aliás, com ela tendo convidado Gretchen para rebolar no clipe de “Swish Swish”. Mas ali, no Estrela da Casa, Katy parecia estar só obedecendo a um compromisso que sua equipe achou que viria a calhar.
Ela tem estado no automático há uns anos. Depois de viver uma ascensão impressionante no começo dos anos 2010 com os discos “Teenage Dream” e “Prism”, ela aos poucos caiu no ostracismo com os esquecíveis “Witness” e “Smile”, um álbum sem personalidade nem hits, exatamente o que não se esperava de um trabalho de Katy Perry no passado.
Quatro anos depois, tendo visto sua filha crescer, agora mais madura, Katy parecia ter tudo para voltar a fazer sucesso. Mas foi de novo mal recebida com o single “Woman’s World”, acusada de apelar para um tipo de feminismo barato, enquanto trabalha com Dr. Luke, produtor acusado de abuso sexual e psicológico pela cantora Kesha, numa briga judicial que se arrastou por anos. Katy tampouco empolgou com as faixas que lançou depois, e a expectativa pelo álbum só caiu.
Ao adentrar o Estrela da Casa, onde ficou tendo de ajudar aspirantes a cantor a lembrarem a letra das suas músicas, Katy expõe uma falta de filtro preocupante. Com a carreira do jeito que está, vai ser difícil voltar a viver aquele sonho de adolescente sobre o qual tanto canta.