Como visualizar o som? Na tentativa de transformar algo invisível em tangível, o artista espanhol Daniel Palacios criou uma instalação em que dois motores oscilam uma corda esticada —quando em movimento, a imagem criada no espaço pelo fio lembra a representação visual de uma onda sonora. Ao mesmo tempo, ao açoitar o ar em diferentes velocidades, a corda produz som de vento ou de chicote.
De forte apelo visual, a obra sintetiza a exposição “Virada Sônica”, um conjunto de trabalhos de arte sonora que ocupa agora duas galerias expositivas do Farol Santander, no centro de São Paulo.
São “obras de arte multimídia que têm o som como protagonista ou que silenciosamente vão refletir sobre a cultura do áudio”, diz o organizador da mostra, Chico Dub, nome por trás do festival de música experimental Novas Frequências.
Dub ressalta a singularidade das obras sonoras —embora dialoguem com as artes visuais e a música experimental, têm seu lugar próprio, que ele chama de terceira via. Muitos dos trabalhos expostos exigem a participação ativa do espectador, convidado a ouvir ou a entrar em ambientes, como na instalação de Tiganá Santana em que a música dos tambores numa sala com luz vermelha baixa homenageia os 50 anos da fundação do primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Ayê.
Mas nem tudo é música para os ouvidos nos trabalhos dos 26 artistas brasileiros e estrangeiros da exposição. Por exemplo, Vivian Caccuri costurou orelhas conectadas umas nas outras num lenço branco, pendurado na parede em forma de estandarte, e deu à obra o poético título de “Escutar É Uma Utopia”. Já no vídeo da clássica “4’33””, de John Cage, um músico senta ao piano mas não toca uma nota sequer durante quatro minutos e 33 segundos.
Ao abordar o som ou a sua ausência, a exposição vai além da questão estética e também trata da escuta, afirma o organizador. Dub diz que a missão da mostra é também buscar a ampliação da escuta, para que se comece a prestar atenção no outro, “uma coisa muito importante no mundo em que a gente vive hoje”.
Embora exista no Brasil desde o início do século 20 pela obra de Walter Smetak, a arte sonora teve um impulso mais recente no cenário artístico global, quando em 2010 a escocesa Susan Philipsz ganhou o importante prêmio britânico Turner com um trabalho musical.
Ela gravou versões de um canto triste do século 16 cuja letra versa sobre um marinheiro afogado que volta à terra para dar adeus a seus entes queridos. Os registros, em sua voz, eram emitidos embaixo de pontes de Glasgow, impactando quem passava por ali.
Esta conexão com o ambiente de forma mais ampla também aparece na exposição no Farol Santander, a exemplo da obra feita em conjunto por Darya Efrat, Joana Burd e João Dias-Oliveira. Chamada “Earth Pulse”, ou pulsação da terra, trata-se de um gramado onde é possível deitar para sentir as vibrações de sismos ou terremotos captados, em tempo real, por antenas em vários lugares do mundo.
Para Burd, uma das artistas, a obra “é um convite a meditar e se conectar com o planeta”.