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A Bienal do Livro de São Paulo chegou ao fim como a maior desta década. Segundo a organização, mais de 722 mil pessoas passaram pelo evento que lotou o Distrito Anhembi ao longo de dez dias.
O cristianismo foi um dos temas mais recorrentes ao longo da Bienal. A ficção cristã foi discutida em uma mesa que defendeu que esse gênero é mais presente do que percebido na literatura, como é o caso da série “As Crônicas de Nárnia”, de tintas religiosas.
Já “Café com Deus Pai”, o livro mais vendido no Brasil no ano passado, tinha um estande próprio onde o pastor e autor Junior Rostirola dava autógrafos, servia café e ouvia testemunhos de leitores todos os dias. Ele próprio subiu ao palco do evento para dar seu testemunho de fé.
De louvor religioso, o evento passou para um show a cappella da autora e cantora Hayley Kiyoko, apelidada de “Jesus lésbica” da comunidade queer, que também passou pelo palco e animou seus fãs ao entoar os versos “garotas gostam de garotas”.
Fora dos palcos, houve tumulto quando o candidato a prefeito Pablo Marçal passou pela multidão que se dividia entre xingamentos e gritos de “mito”.
E também quando a autora Kelly M., de 19 anos, levou à sua sessão de autógrafos um modelo estrangeiro personificando o protagonista de seu livro erótico.
Acabou de Chegar
“Baumgartner” (trad. Jorio Dauster, Companhia das Letras, R$ 79,90, 176 págs., R$ 39,90, ebook) é o livro derradeiro do americano Paul Auster. Segundo o crítico André Barcinski, fãs da prosa peculiar de Auster podem reconhecer autorreferências e elementos típicos de seu estilo pós-moderno na história de Seymour Baumgartner, um escritor septuagenário que lida com o luto da mulher.
“Impostora: Yellowface” (trad. Yonghui Qio, Intrínseca, R$ 59,90, 352 págs., R$ 39,90, ebook) discute o paradoxo da representatividade ao narrar a história de uma protagonista branca que plagia o livro de sua amiga morta, que é filha de chineses. Segundo a crítica Isabela Yu, a trama de R.F. Kuang discute como o mercado literário oprime os escritores.
“Descansar É Resistir” (trad. Steffany Dias, Fontanar, R$ 59,90, 192 págs., R$ 19,90, ebook) é o best-seller da americana Tricia Hersey, autointitulada “Bispa do Cochilo”. Em entrevista a Teté Ribeiro, Hersey conta que nossa cultura capitalista e patriarcal está em “uma crise profunda quando se trata de privação de sono”.
E mais
Gabriel García Márquez dizia que “a gente apenas escreve um livro ao longo de toda a vida”. A frase parece errada vinda do Nobel de Literatura, dono de uma extensa obra literária, mas se concretiza em dois livros que revisitam sua obra e identificam temas comuns entre elas. Como destaca a jornalista Sylvia Colombo, “A Caminho de Macondo” reúne diversos escritos de García Márquez em que aparece algum elemento de sua maior história, “Cem Anos de Solidão”., Já “Los Médicos de Macondo” explora a obsessão do autor pela medicina, incluída com frequência em suas narrativas.
Em novembro, a editora Zahar ampliará a projeção de uma obra publicada há uma década. A coluna Painel das Letras destaca “Lélia Gonzalez: Um Retrato”, livro em que a intelectual Sueli Carneiro constrói um perfil de sua amiga desde a criação em uma família de trabalhadores até se tornar uma das mais importantes pensadoras do país.
“A Vida Verdadeira de Domingos Xavier” (Kapulana, R$ 54,90, 104 págs., R$ 46,90, ebook) corporifica o sonho libertador angolano, que teve êxito com a conquista da independência em 1974. O crítico Ronaldo Vitor da Silva aponta que, no livro de Luandino Vieira, o protagonista se vê na mesma posição em que o autor já esteve durante a ditadura salazarista, em uma sala de interrogação, onde ambos se recusaram a ceder suas convicções.
Além dos Livros
A ONG Bibliotecas sem Fronteiras colocou estantes de livros em um navio que resgata migrantes à deriva no mar. Atuante desde 2007, a iniciativa navegante oferece obras literárias, jogos de tabuleiros e servidores de internet a pessoas que buscam asilo. Segundo a reportagem de Ana Bottallo, a organização considera a leitura e a educação ferramentas de reumanização.
Aos 88 anos, o crítico brasileiro Jean-Claude Bernardet mantém uma relação de questionamentos e não aceitação diante do mundo. Conforme análise de Inácio Araujo, é no presente perpétuo do “nunca aceitar, duvidar sempre” que se constrói autobiografia “Wet Mácula: Memória/Rapsódia”, sobre as visões de Bernardet e sua doença ocular (que dá nome ao livro).
Cachorro era o apelido de militantes comunistas que mudavam de lado e trabalhavam para a inteligência militar durante a ditadura como agentes infiltrados. Para o repórter Marcelo Godoy, que entrevistou diversos militares da época, Severino Theodoro de Mello foi o maior entre esses espiões e por isso protagoniza o livro “Cachorros”.