O escritor e diretor Paulo Faria, um dos fundadores da Cia Pessoal do Faroeste, morreu na madrugada desta terça-feira (17), aos 59 anos, na Ilha do Mosqueiro, distrito de Belém, no Pará, onde morava desde 2022 após mais de 30 anos de presença marcante na cena teatral de São Paulo.
Segundo o jornalista Lúcio Flávio Pinto, irmão mais velho do diretor, ele foi encontrado morto na casa em que morava com seus cães e gatos. A causa da morte não foi divulgada oficialmente.
“A perícia policial ainda apura as circunstâncias da morte, que surpreendeu e chocou a todos nós”, escreveu Pinto em seu blog jornalístico. Amigos acreditam que o diretor sofreu um infarto.
Nascido em Belém, Faria foi autor, autor, diretor e figurinista durante dez anos em sua cidade natal antes de mudar para São Paulo, na década de 1990. Cursou letras na USP (Universidade de São Paulo) e teve uma trajetória teatral premiada e reconhecida na capital paulista, mas não livre das dificuldades do ofício.
Fundada em janeiro de 1998, a Pessoal do Faroeste teve como sede um sobrado na rua do Triunfo, na Luz, região da cracolândia em São Paulo também conhecida como Boca do Lixo.
Liderado por Faria, o grupo realizou trabalhos cênicos que refletiam momentos históricos brasileiros e fez pesquisas dedicadas ao entorno da estação da Luz, uma região que já foi polo do cinema brasileiro, símbolo da chanchada e hoje é tomada pela cracolândia. A companhia também realizava ações sociais, como oficinas de arte e distribuição de cestas básicas.
Entre os sucessos da Pessoal do Faroeste estão a trilogia “Cine Camaleão” (2012), “Homem Não Entra” (2013) e “Luz Negra” (2014), peças que tiveram Mel Lisboa no elenco.
“Aprendi tudo com você: teatro, política, cidadania, amar o Pará e o centro de São Paulo”, escreveu a atriz na despedida do diretor, chamado por ela de mestre. “Pena não podermos seguir com os nossos muitos planos de muitos outros projetos”.
A Pessoal do Faroeste foi despejada da sede em setembro de 2020, durante a pandemia, devido a uma dívida de R$ 200 mil com o proprietário do imóvel.
“Morte ingrata, cruel, revoltante. Paulo estava começando nova etapa na sua vida e na carreira múltipla, reconhecida e premiada graças ao seu talento como escritor, teatrólogo, diretor, encenador e um ativista das causas nobres no Pará, em São Paulo e por outros recantos do Brasil”, lamentou Lúcio Flávio Pinto.
Nos últimos anos, Faria publicava crônicas no blog do irmão e escreveu o livro “Arigós: aconteceu na Amazônia”, o primeiro dos três que estavam em seus planos após a volta a Belém, entre eles uma autobiografia.
O diretor tinha orgulho dos prêmios recebidos ao longo da trajetória, entre eles o Shell Inovação pela ocupação na região da cracolândia e reconhecimentos na área de direitos humanos pela Assembleia Legislativa e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
“Precisei vir para Belém, voltar para mim e para os meus e minhas, para me curar do adoecimento que me acometeu por tanta coragem e solidão, ali no fronte de guerra”, ele escreveu, no Facebook, no início de 2024, sobre o que chamava de auto exílio. “Peguei meus 23 pets e me tranquei três dias numa van, na estrada, sem sair para nada, até chegar na Amazônia, fazer zooterapia e encontrar a paciência”.
A postagem foi acompanhada de uma foto da antiga sede da companhia teatral, agora com uma placa de uma imobiliária que aluga o imóvel.