O AmazonFACE deve continuar por pelo menos 10 anos para permitir capturar o efeito do aumento de CO2 atmosférico sobre processos ecológicos que têm uma dinâmica lenta, como o crescimento do tronco das árvores. Sendo assim, alguns resultados, como o armazenamento de carbono nos troncos, só estarão prontos para serem divulgados após vários anos de observações. Outros resultados, como o efeito sobre as taxas de fotossíntese, no entanto, já poderão ser divulgados em questão de semanas após o início do experimento.
O AmazonFACE conta ainda com um experimento paralelo de menor escala, que faz uso de estruturas conhecidas como “câmaras de topo aberto”, onde se pode submeter árvores relativamente pequenas, de até 3 metros de altura, do sub-bosque florestal, a concentrações elevadas de CO2. Os primeiros resultados desse experimento, que funciona desde 2018, estão sendo publicados agora. Mas embora inovador e cientificamente importante, este pequeno experimento com câmaras de topo aberto ainda fica longe de responder às perguntas no nível de ecossistema, como faremos com a tecnologia FACE.
Resultados para a ciência e a sociedade
Um dos resultados esperados do AmazonFACE é que os dados oriundos do experimento de campo possam melhorar a formulação de modelos computacionais da relação entre vegetação e clima. Isso permitirá projeções mais confiáveis acerca do futuro da Amazônia frente às mudanças climáticas, e diminuirá as incertezas quanto à possibilidade de um ponto de não retorno Amazônico. Essa interação entre o experimento de campo e atividades de modelagem é algo que já vem sendo conduzido desde o início do programa de modo a ensejar uma boa troca de informações entre os cientistas de campo e os modeladores.
Por fim, o AmazonFACE conta também com uma área de pesquisa “socioambiental”, que investiga como os impactos do aumento de CO2 e das mudanças climáticas na floresta vão transbordar para diferentes setores socioeconômicos da região. Essa pesquisa socioambiental se ampara sobretudo no conceito de serviços ecossistêmicos para fazer uma ponte entre as possíveis alterações na floresta (e nos serviços que ela provê) e a sociedade.
Mesmo que se descubra que o efeito de fertilização por CO2 é fraco, inexistente ou passageiro, é claro que o experimento do AmazonFACE em si não nos dará condições, sozinho, de mitigar ou eliminar a possibilidade de a Floresta Amazônica ser profundamente alterada pelas mudanças climáticas, como o preconizado pela hipótese do ponto de não retorno Amazônico. Mas deter o conhecimento que será gerado pelo programa pode ajudar sobremaneira as populações da região a se prepararem ou se adaptarem para esse futuro vindouro.